Mulheres Amazônicas - Como o projeto máscara mais renda ajudou uma costureira de Tocantins a superar a depressão

April 26, 2024

Nesta série cativante, intitulada "Mulheres Amazônicas", mergulharemos nas vidas e histórias de nove mulheres excepcionais, cada uma representando um estado amazônico, cujas trajetórias brilhantes foram moldadas por coragem, determinação e um compromisso inabalável com a transformação. Prepare-se para se inspirar, pois juntos exploraremos as conquistas, os desafios superados e o impacto significativo que o projeto Máscara Mais Renda deixou em suas vidas.

Para preservar a privacidade da entrevistada, identidades, nomes e detalhes específicos foram cuidadosamente omitidos e substituídos neste artigo. Nosso foco reside inteiramente nas experiências e percepções compartilhadas, destacando o valor das histórias individuais que muitas vezes preferem permanecer discretas. Através deste artigo, buscamos honrar as narrativas e percepções genuínas da entrevistada, enquanto respeitamos plenamente sua escolha de anonimato.

Acompanhe-nos, explorando essa trajetória inspiradora!

A maior parte das mulheres que participam do projeto Máscara mais Renda tem uma história de superação para contar. As histórias geralmente envolvem pagamento de dívidas, cuidados com a saúde, auxílio para filhos e outros familiares, custeio de outras despesas como contas acumuladas e, diversas vezes, até da comida que se põe na mesa todos os dias para si e para o restante das famílias. São casos delicados, olhados com carinho pela Rede Asta, que junto aos seus parceiros vem trabalhando para mitigar esta grande crise que se estabeleceu na mesa dos brasileiros, principalmente mulheres, com a chegada da pandemia e seus três anos subsequentes. Com Márcia, não foi diferente, mas além do custeio da saúde física, a história de Márcia vai além, ela nos demonstra que é preciso olhar também para outro tipo de saúde, a saúde psicológica. 

“Eu comecei a ganhar gosto por costura quando eu ainda era muito jovem, através de uma tia. Ela era costureira e eu aos 14 anos eu passei a morar com ela. Eu sempre cortava uma linha, desmanchava algum erro quando ela estava por perto. Ao completar 18 anos, eu casei e meu esposo não ganhava muito bem. Então eu comecei a fazer tapete de crochê  para vender, daí comprei uma máquina de costura e passei a costurar tapete de retalho, para ajudar o meu esposo”, começa a contar a sua história.

O casal teve quatro filhos e os trabalhos do lar aumentaram, fazendo com que Márciia não pudesse mais se dedicar à costura. “Deus me agraciou com quatro filhos e ficou um pouco mais difícil dar conta dos filhos e de costurar. Aí parei um bom tempo para cuidar deles”. Até que uma grande mudança fez com que ela precisasse voltar a trabalhar para fora novamente. “Quando o meu filho mais novo completou quatro anos, eu me separei do meu esposo e caí em depressão. Minha mãe e minha família foram minha base pra me ajudar com os meus filhos, pois eu não tinha vontade de fazer nada. Daí tive acompanhamento com uma psicóloga e ela me falou que seria bom fazer uma costura, fazer um crochê, alguma coisa para ocupar minha mente. Então, uma amiga que é vizinha me chamava para costurar na casa dela. Assim ela descobriu que eu sabia traçar, então ela combinou comigo de eu traçar e cortar as peças, e me pagava para isso. Eu aceitei e foi muito bom, ela me ajudou a melhorar da depressão. Passei muito tempo trabalhando com ela”, continua.

Depois de anos, a depressão retornou, mas dessa vez por outro motivo. “Hoje eu vivo sozinha, meus filhos cresceram, cada um foi cuidar de si. E eu fiquei morando só. E não é bom viver só”, explica a costureira.

Foi nesse contexto que o projeto Máscara mais Renda chegou em sua vida, indicado por uma outra costureira do município de Tocantinópolis, onde Márcia reside. “Quero agradecer à costureira Dona Eliana, que me incentivou a fazer minha inscrição no projeto Asta.  Foi muito bom, só tenho a agradecer, pois eu estava precisando de uma atividade e também de dinheiro para cuidar dos meus dentes. Esse dinheiro chegou na hora certa. Sinto muita gratidão pelo projeto, pela Rede Asta, pela articuladora Bárbara, a quem amo muito. Também quero dizer que amei assistir às lives. Desejo que esse projeto e outros continuem a ajudar muitas pessoas, sempre se preocupando com o próximo e levando assistência às pessoas em vulnerabilidade financeira e psicológica. Porque um trabalho ajuda muito uma pessoa que se encontra sozinha. Não tenho palavras, só gratidão'', finaliza a integrante do projeto no Pará. 

A saúde mental foi uma das abordagens do projeto, que investiu no bem-estar das mulheres e compartilhou campanhas nos grupos de WhatsApp das costureiras e três lives de saúde, com foco na COVID-19. Em uma das iniciativas, na live “Luto pós-Covid 19”, realizada em 22 de setembro, com a psicóloga Mariana Clark, as costureiras e artesãs puderam dialogar sobre suas perdas de diversas naturezas, especialmente na pandemia, para fortalecer a saúde mental, tão abalada nestes tempos difíceis. “O luto é um processo de rompimento de vínculo. À medida que rompemos um vínculo com alguém ou alguma coisa, entramos em processo de luto. Só que não passamos por isso só quando perdemos pessoas que amamos. Existe uma categoria chamada ‘lutos não reconhecidos’, que são essas experiências de rompimentos que vivemos ao longo da vida. Pesquisas apontam que passaremos por 20 dessas em média e, assim como com o luto de quando perdemos alguém, temos que reaprender a viver a partir dessas dores”, explicou a psicóloga Mariana Clark, ressaltando a necessidade de se falar sobre o tema.

Além de lidar com a morte de pessoas queridas, essas mulheres tiveram de enfrentar a falta de empregos e renda, causada pela pandemia. O projeto Máscara Mais Renda foi uma oportunidade para minimizar esse impacto na vida de suas famílias. 

Sobre o apoio para realização do projeto

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Iniciativa de Novos Parceiros, Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem) formam a parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Região Amazônica  brasileira. A “NPI EXPAND Brasil: Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira (fase 2)” é uma iniciativa que engaja organizações da sociedade civil (OSCs) em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate a COVID-19. A primeira fase da iniciativa, também conhecida como “PPA Solidariedade”, contou com a Plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA). Essa parceria inovadora com o setor privado distribuiu mais de 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região. A segunda e nova fase da iniciativa está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a COVID-19, de campanhas de informação e combate à fake News, fortalecendo os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de COVID-19, bem como, treinar profissionais de saúde, realizar o acompanhamento de casos agudos de COVID-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-COVID-19.

Sobre a Rede Asta

Fundada em 2005, a organização sem fins lucrativos foca seu trabalho em ações que possam melhorar a vida das pessoas e das comunidades. Suas áreas de atuação são os nano e pequenos negócios, a geração de renda e fortalecimento da economia dos territórios. Também atua pela sustentabilidade do planeta por meio do reaproveitamento de resíduos como matérias primas dos produtos feitos por nano empreendedores, especialmente mulheres.
Saiba mais: www.redeasta.com.br

*Mariana Guimarães é jornalista e gerente do projeto Máscara + Renda.