Mulheres Amazônicas - Conheça Yosmary, a venezuelana que veio para o Brasil em busca de uma vida melhor e foi apoiada pelo projeto Máscara Mais Renda

September 1, 2023



Nesta série cativante, intitulada "Mulheres Amazônicas", mergulharemos nas vidas e histórias de nove mulheres excepcionais, cada uma representando um estado amazônico, cujas trajetórias brilhantes foram moldadas por coragem, determinação e um compromisso inabalável com a transformação. Prepare-se para se inspirar, pois juntos exploraremos as conquistas, os desafios superados e o impacto significativo que o projeto Máscara Mais Renda deixou em suas vidas.

Acompanhe-nos, explorando a trajetória inspiradora de Yosmary.


Yosmary Nayleth Avanero Rodriguez - Porto Velho, Rondônia

Quando Yosmary Nayleth Avanero Rodriguez viajou da Venezuela para o Brasil, achou que aqui seria melhor para ela e sua família. Com apenas 30 anos, até então havia tido uma vida tranquila na Venezuela, mas após a desvalorização do petróleo ocorrida a partir de 2014,com a falta de commodities, o país entrou em grave retração econômica, em contraste com a distribuição de riquezas aos mais pobres conquistada nos anos anteriores. Um dos resultados foi uma crise humanitária que obrigou milhares de venezuelanos a buscarem uma vida melhor nos países vizinhos. Nesse contexto, Yosmary e sua família chegaram ao Brasil, se instalando em Porto Velho, Rondônia. 

Embora a vida estivesse perspectivas de melhora, o local onde a família se instalou, e onde se encontram até hoje, é distante do centro da cidade, onde se encontram as melhores oportunidades de trabalho. Com duas filhas crianças e contando com sua mãe para ajudar no dia a dia, a situação de Yosmary ficou ainda mais difícil quando a matriarca da família adoeceu. Ao mesmo tempo, sua filha mais nova também começou a apresentar problemas graves de saúde, desmaiando frequentemente por uma doença até então não descoberta pelos médicos que a atenderam. 

“Minha história é assim: eu sempre estou em busca de alguma ajuda, na verdade, todo mundo me fala ‘você é jovem, pode trabalhar’, mas eu tenho uma filha que tem uma doença que ainda não conhecemos qual é. Ela desmaia, não posso deixar sozinha, ela fica muito branca, depois fica roxa, então não posso deixá-la sozinha. Eu fico atrás de exames pra fazer nela, e eu não tenho marido. Minha mãe também se complicou quanto à saúde. Ela era uma mulher normal, tinha uma vida normal, mas começou a passar por problemas de pressão arterial baixa, logo na sequência a pressão arterial subia, então foi ficando muito ruim porque eu não podia sair de casa para trabalhar. Hoje eu preciso ficar por perto para cuidar delas, preciso de um horário de trabalho que eu consiga manter a casa, porque se eu descuido delas alguém pode piorar”, explica.

Assim, Yosmary se viu em uma condição quase tão difícil quanto a que estava em seu país: sem poder trabalhar, não conseguir gerar a renda necessária para o sustento de todos, e, sem renda, por falta de recursos não conseguia oferecer os cuidados que sua família precisava. Ela também explica que já fazia artesanato, mas encontrava muitas dificuldades em comercializá-lo. “Eu fazia e não conseguia vender para ninguém”, lamenta. Tudo isso acabou gerando uma dívida de meses sem pagar o aluguel, até que conheceu o projeto e resolveu fazer sua inscrição.

“Quando recebi a notícia de que fui selecionada, aquilo me deu um alívio, fiquei muito feliz, porque quando eu ganhava dinheiro eu pagava o aluguel, mas eu também tinha que comprar medicações para minha mãe e isso era muito difícil. Então, eu fiz uma negociação com o dono do imóvel para pagar o aluguel depois, ir juntando e pagar lá na frente, pra poder comprar a medicação da minha mãe. Quando a oportunidade do projeto chegou eu pensei ‘pronto, agora tudo vai dar certo!’, vou fazer essas máscaras, doar, ter dinheiro para pagar o aluguel, conseguir fazer os dois exames na minha mãe, que sai 500 reais, cada um, e melhorar um pouquinho a alimentação dela, porque ela tem um problema de falta de ferro no corpo, o que faz com que ela demore sempre muito para se recuperar”. 

Yosmary conta que se adaptou perfeitamente à rotina do trabalho. “Quando fiz a inscrição ainda não tinha máquina. Então eu procurei uma ajuda particular e consegui uma. Quando a máquina chegou e eu fiquei enamorada dela! Consegui fazer 120 máscaras no primeiro dia e vi que seria bom fazer o máximo que podia. Até que chegou o dia da primeira entrega e eu entreguei tudo que eu tinha que produzir logo de uma vez, recebendo todo o valor, com o que pude pagar o aluguel atrasado e aliviar minha vida”. As máscaras produzidas por ela foram doadas à instituição Cáritas, de Porto Velho, que distribuiu o quantitativo para populações vulneráveis do município, ajudando no controle da propagação da COVID-19 no local.

Ela diz que reconhece que, assim como ela, muitas mulheres passam por problemas de sustento atualmente. “Agradeço demais a Rede Asta pela oportunidade de fazer este trabalho, porque sei que muitas mulheres passam por problemas muito difíceis e cada uma de nós passa por uma situação diferente. É muito compromisso e obrigação para uma mulher sozinha e sabemos que são muitas mulheres sozinhas, com filhos, com mães, com casa para cuidar” - finaliza. 

Sobre o apoio para realização do projeto

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Iniciativa e Novos Parceiros, Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem) formam a parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Região Amazônica  brasileira. A “NPI EXPAND Brasil: Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira (fase 2)” é uma iniciativa que engaja organizações da sociedade civil (OSCs) em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate a COVID-19.  primeira fase da iniciativa, também conhecida como “PPA Solidariedade”, contou com a Plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA). Essa parceria inovadora com o setor privado distribuiu mais e 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região. A segunda e nova fase da iniciativa está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a COVID-19, de campanhas de informação e combate à fake News, fortalecendo os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de COVID-19, bem como, treinar profissionais de saúde, realizar o acompanhamento de casos agudos de COVID-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-COVID-19.

Sobre a Rede Asta

Fundada em 2005, a organização sem fins lucrativos foca seu trabalho em ações que possam melhorar a vida das pessoas e das comunidades. Suas áreas de atuação são os nano e pequenos negócios, a geração de renda e fortalecimento da economia dos territórios. Também atua pela sustentabilidade do planeta por meio do reaproveitamento de resíduos como matérias-primas dos produtos feitos por nano empreendedores, especialmente mulheres. 

*Mariana Guimarães é jornalista e gerente do projeto Máscara + Renda.