Mulheres Amazônicas - Inspirada pela cultura familiar, ela fez da costura o seu sustento e motivo de realização pessoal

June 21, 2024

Nesta série cativante, intitulada "Mulheres Amazônicas", mergulharemos nas vidas e histórias de nove mulheres excepcionais, cada uma representando um estado amazônico, cujas trajetórias brilhantes foram moldadas por coragem, determinação e um compromisso inabalável com a transformação. Prepare-se para se inspirar, pois juntos exploraremos as conquistas, os desafios superados e o impacto significativo que o projeto Máscara Mais Renda deixou em suas vidas.

Acompanhe-nos, explorando a trajetória inspiradora de Nilzete.


Nilzete Silva de Sousa Pereira - Imperatriz, Maranhão

A costura é uma herança ancestral, que traz consigo uma poesia transmitida no vai e vem de uma agulha através das gerações. O ato de criar vestimenta protege pessoas no calor e no frio, ao mesmo tempo que expressa sentimentos criativos e de cuidado com o próximo. É por isso que mesmo com o advento de fábricas e suas formas de produção automatizadas, a costura continua a existir - ela é uma forma de criação do belo e propagação do amor. 

Intimamente ligada à resistência de roupas e de quem as faz, ainda hoje ela cativa muitos profissionais, especialmente mulheres, que encontram no ofício uma forma de sobrevivência para si e suas famílias, e também uma fonte de inspiração para suas vidas. Dos salões de alta costura ou nas pequenas salas da vizinhança do bairro, a costura acaba sendo uma forma de expressão cultural. 

A costura à mão e outras formas de artesanato como o tear e o bordado são compartilhados entre mulheres desde o início da era patriarcal. De geração em geração, essa arte se perpetua até os dias de hoje. A história de Nilzete Silva de Sousa Pereira, maranhense do município de Imperatriz, nos mostra essa forma de carinho. Desde que era criança, a arte da encantava a pequena menina, que olhava sua mãe fazer roupas para fora. “Eu ficava vendo ela costurar, os movimentos de vai e vem, a máquina, e achava tudo muito bonito. Aquilo me chamava atenção. Então, quando ela saía da máquina, eu sentava no seu lugar e ficava mexendo em tudo. Ela me falava: ‘menina, sai daí, você vai acabar se machucando com essas agulhas!’, mas eu sentia muita vontade de, assim como ela, saber costurar, de fazer a mesma coisa que ela estava fazendo”, conta. 

Os primeiros passos de Nilzete na prática das agulhas e linhas foram dedicados à criação de roupinhas para suas bonecas. “Eu adorava costurar roupas de bonecas, até que um dia minha mãe viu que eu tinha aprendido a fazer algumas coisas, como babados e franzidos, e passou a me incentivar, a me colocar para fazer também. Assim eu fui pegando a costura e um amor pela profissão”, continua. “Quando cresci, trabalhei por muitos anos, mas não na área da costura. Às vezes até aparecia alguns remendos dos vizinhos para eu fazer, nada muito complicado, mas aquilo já me gerava uma renda extra, já dava para ganhar um dinheirinho a mais. Assim eu fui percebendo que ainda tinha um sonho para realizar na vida: trabalhar só com costura!”. 

Certo dia, uma amiga chamou a jovem para fazer um teste em uma fábrica de roupas íntimas. O local estava abrindo na época e eles fizeram um chamado para contratar costureiras, mesmo que sem experiência. Foi a chance que ela precisava para realizar seu sonho, então ela se candidatou e foi contratada. Ali foi o começo dessa trajetória em sua vida. “Graças a Deus, amo costura!”, repete com alegria. 

Em 2020, com a chegada da pandemia, as coisas começaram a ficar mais difíceis para Nilzete. Com a contaminação por coronavírus de vários colaboradores, a fábrica estabeleceu recesso e todos passaram a ficar em casa. Foi nesse momento desconcertante que o projeto Máscara mais Renda chegou na vida de Nilzete. “Eu participava de um grupo da igreja. Até que um dia chegou uma mensagem no grupo informando que o projeto estava precisando de costureiras para confeccionar máscaras em sua residência. Então eu me inscrevi e fui selecionada. Trabalhar [na Fase 2] no projeto e gerar essa renda me ajudou bastante nesse momento”. 

Nilzete conta que atualmente está trabalhando como costureira em uma fábrica de colchões. Ela diz que ama o que faz, mas sabe que ainda tem um sonho a realizar, que é o de transformar tecidos em roupas. “Quero ser igual a minha mãezinha, que Deus a tenha ao seu lado. Essa história de amor é a minha história”, finaliza. 

Sobre o apoio para realização do projeto

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Iniciativa de Novos Parceiros, Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem) formam a parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Região Amazônica  brasileira. A “NPI EXPAND Brasil: Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira (fase 2)” é uma iniciativa que engaja organizações da sociedade civil (OSCs) em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate a COVID-19. A primeira fase da iniciativa, também conhecida como “PPA Solidariedade”, contou com a Plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA). Essa parceria inovadora com o setor privado distribuiu mais de 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região. A segunda e nova fase da iniciativa está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a COVID-19, de campanhas de informação e combate à fake News, fortalecendo os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de COVID-19, bem como, treinar profissionais de saúde, realizar o acompanhamento de casos agudos de COVID-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-COVID-19.

Sobre a Rede Asta

Fundada em 2005, a organização sem fins lucrativos foca seu trabalho em ações que possam melhorar a vida das pessoas e das comunidades. Suas áreas de atuação são os nano e pequenos negócios, a geração de renda e fortalecimento da economia dos territórios. Também atua pela sustentabilidade do planeta por meio do reaproveitamento de resíduos como matérias-primas dos produtos feitos por nano empreendedores, especialmente mulheres. 

*Mariana Guimarães é jornalista e gerente do projeto Máscara + Renda.