Mulheres Amazônicas - Máscara Mais Renda possibilita que costureira gere renda extra para a família

June 21, 2024

Nesta série cativante, intitulada "Mulheres Amazônicas", mergulharemos nas vidas e histórias de nove mulheres excepcionais, cada uma representando um estado amazônico, cujas trajetórias brilhantes foram moldadas por coragem, determinação e um compromisso inabalável com a transformação. Prepare-se para se inspirar, pois juntos exploraremos as conquistas, os desafios superados e o impacto significativo que o projeto Máscara Mais Renda deixou em suas vidas.

Acompanhe-nos, explorando a trajetória inspiradora de Maria José.

Maria José de Souza Monteiro - Rio Branco, Acre


Entre tecidos, aviamentos, linhas e agulhas brotam histórias emocionantes do projeto Máscara Mais Renda. São milhares de vidas brasileiras, um retrato da realidade das costureiras e sua prática de trabalho. Entre esse conjunto de riquezas culturais e de afeto, está a história de Maria José de Souza Monteiro, costureira de Rio Branco, município do Acre. “A minha história é um pouco inusitada. Nós éramos nove filhos. A gente convivia com pai e mãe, e cada um foi casando, foi seguindo seu próprio destino, e eu ficando, sempre por perto deles dois”, ela começa contando. “Tinha minha mãe, que na época não era costureira profissional, mas costurava. Depois veio a minha irmã, que costurava também e era quem fazia nossas roupas, pra gente sair ela era quem costurava, mas até aí eu só olhava, ainda não sabia costurar”. 

Até que Maria José também se casou, indo morar com o esposo longe da família, no interior. Como esperado, a mulher engravidou, dando à luz a uma linda filhinha. “Nesse momento veio a necessidade de eu aprender a fazer algumas roupinhas para minha filha, porque eu não tinha como comprar pronto e não tinha como pedir para minha irmã costurar, já morávamos muito longe. Então eu me vi, assim, meio que necessitando aprender a fazer alguma coisa”.

Foi então que a mulher resolveu tentar, se baseando nas memórias que tinha ao ver a mãe e a irmã costurarem quando ainda moravam juntas. “Eu via ela fazendo, mas eu mesma não sabia costurar, mas como eu via ela fazendo, resolvi tentar!”, conta. Nessa época, Maria José não tinha como comprar tecidos porque as lojas ficavam muito distantes do local onde ela estava morando. “Então eu cortava as blusas, fazia o corte das roupas e ia tentando, ia tentando. E foi assim que aprendi a fazer roupinhas de criança. Fazia blusinha para minha filha, fazia sainha, fazia shortinhos”. Desta forma ela aprendia e ao mesmo tempo economizava, contribuindo para a contenção de despesas da família.  

“Até que eu vim embora para a cidade. Quando eu cheguei na cidade, eu não trabalhava, porque eu tinha duas filhas pequenas e meu esposo disse que se eu fosse trabalhar o que eu ia ganhar seria para pagar alguém para olhar as minhas filhas, então seria melhor eu ficar em casa para cuidar das meninas”. Assim, dentro de casa, concentrando-se exclusivamente no cuidado das crianças, ela iniciou sua vida na capital do Acre. 

Quando chegou no final do ano, o esposo presenteou Maria com um máquina elétrica de  costura, e junto deu um dinheiro a mais para ela comprar uma máquina especialmente para acabamentos. Depois disso, ela se viu na situação ideal para realizar o sonho de começar um pequeno negócio. “Eu aprendi a fazer uns moldes de calcinha. Comprei o material, comecei fazendo calcinhas e já vendendo, e por aí o meu dinheirinho foi rendendo. Aí apareceram uns cursos gratuitos. Eu não tinha como pagar os cursos de costura. Esses eu pude fazer! Me formei como costureira fazendo um curso oferecido pelo Governo do Acre”.

O negócio não cresceu, mas ocupou o tamanho que Maria José queria, que era trabalhar sem ter que sair de casa. “Até hoje eu costuro, só que na minha casa mesmo. Comecei pela necessidade de ter que ter as coisas e não ter quem fizesse para mim, eu aprendi assim, pela necessidade. Fiz meus cursos, tenho as minhas maquinazinhas, não tenho muito, tenho só duas mesmo, mas para o trabalho que eu faço é o suficiente”, conta, satisfeita.

A participação no Máscara Mais Renda veio através da indicação de amigos. “Eu cheguei ao projeto através de amigos e de uma associação, a Associação das Mulheres Negras do Acre. Então fiz a minha inscrição e amei ter sido escolhida, porque não trabalho fora, sou desempregada, então eu adorei. É muito gratificante participar. Estou apaixonada pelo projeto, eu amei fazer parte e amei tudo, tudo! O dinheiro que eu recebo pela minha costura é sempre pouco, é pingado, e o projeto me ajudou a gerar um dinheirinho maior, a gerar uma renda que há muito tempo eu não tinha, porque quando a gente não tem um trabalho fixo a gente não consegue uma renda igual a essa do projeto. Para mim, ter essa experiência foi gratificante”, explica.

Além de impactar financeiramente a vida das mulheres, o projeto promoveu uma série de atividades que colaboraram com o espírito empreendedor e qualidade das informações sobre coronavírus e saúde em geral acessada por elas e seus familiares e amigos. Uma dessas ações foi a doação de uma smartphone com pacote de internet para cada participante, garantindo assim o direito à informação e à inclusão digital. Agora elas podem se conectar com mais facilidade à rede de costureiras criada a partir do projeto, estreitar a comunicação com seus clientes, buscar dicas e formações online sobre seu ofício, encerrando mais um ciclo do projeto Máscara Mais Renda.

“O projeto atua em cinco frentes: promoção de renda para essas profissionais; contenção da disseminação do vírus da COVID-19, com a distribuição das máscaras; inclusão digital por meio dos celulares; formação para combater fake news; e construção de uma rede de apoio entre as participantes. O Máscara Mais Renda na Amazônia Legal encerra um ciclo importante no enfrentamento da pandemia, iniciado em 2020, quando foram produzidas mais de 3 milhões de máscaras, e gerando trabalho e renda para mais de 3 mil costureiras em 25 estados e Distrito Federal”, explica Antônio Villela, diretor da Rede Asta.

Além de apoiá-las nos seus negócios e no desenvolvimento de seu perfil empreendedor, os celulares pretendem ser fonte de informações qualificadas para essas moradoras de regiões vulneráveis que, frequentemente, deparam-se com notícias falsas. “Na área da saúde, o poder negativo da divulgação de falsas notícias tem um efeito devastador. Pode interferir nos resultados que se pretende obter com campanhas de vacinação, estudos, pesquisas de novos medicamentos, enfim pode fazer com que novas e antigas doenças se espalhem e ressurjam, respectivamente, de forma mais rápida”, explica a Dra. Adele Schwartz Benzaken, pesquisadora da Fiocruz Amazonas na área da Saúde Pública e uma das palestrantes das lives promovidas pelo projeto, outra iniciativa do Máscara Mais Renda.

Por isso, as costureiras e artesãs do projeto são incentivadas a checar as informações que recebem pelo celular. Esse trabalho conta com envio de cards contendo dicas, participação em lives e um vídeo didático sobre como averiguar a veracidade das notícias, especialmente as que falam de saúde, compartilhadas em grupos de WhatsApp e nas redes sociais. Afinal, embora em muitos estados a máscara de proteção não seja de uso obrigatório, no norte do país, onde se localiza boa parte da Amazônia Legal, ainda é prudente usá-la, já que a região apresenta os menores índices da dose de reforço contra a COVID-19: Amapá (29,73%), Roraima (21,89%), Acre (37,8%), Pará (28,4%), Amazonas (38,51%), Tocantins (32,74%), Rondônia (34,3) (Mapa da Vacinação, R7, setembro de 2022).

Por tudo isso, além de investir na produção com geração de renda, e distribuição gratuita das máscaras produzidas nas comunidades das costureiras e localidades de seu entorno, o projeto foca na saúde integral com as costureiras e com as organizações apoiadoras do projeto para a distribuição das peças nos territórios. “Utilizamos cards e vídeos curtos para abordar temas como prevenção, tratamento domiciliar e vacinação. Outro foco das campanhas de comunicação é o combate às fake news, que tanto prejudicam o combate à doença. Por fim, promovemos as lives que, além desses dois temas, tivemos a oportunidade de facilitar a reflexão sobre o luto e suas consequências”, finaliza Mariana Guimarães, coordenadora do projeto. 

Sobre o apoio para realização do projeto

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Iniciativa de Novos Parceiros, Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem) formam a parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Região Amazônica  brasileira. A “NPI EXPAND Brasil: Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira (fase 2)” é uma iniciativa que engaja organizações da sociedade civil (OSCs) em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate a COVID-19. A primeira fase da iniciativa, também conhecida como “PPA Solidariedade”, contou com a Plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA). Essa parceria inovadora com o setor privado distribuiu mais de 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região. A segunda e nova fase da iniciativa está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a COVID-19, de campanhas de informação e combate à fake News, fortalecendo os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de COVID-19, bem como, treinar profissionais de saúde, realizar o acompanhamento de casos agudos de COVID-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-COVID-19.

Sobre a Rede Asta

Fundada em 2005, a organização sem fins lucrativos foca seu trabalho em ações que possam melhorar a vida das pessoas e das comunidades. Suas áreas de atuação são os nano e pequenos negócios, a geração de renda e fortalecimento da economia dos territórios. Também atua pela sustentabilidade do planeta por meio do reaproveitamento de resíduos como matérias-primas dos produtos feitos por nano empreendedores, especialmente mulheres. 

*Mariana Guimarães é jornalista e gerente do projeto Máscara + Renda.